Campanha ‘Janeiro Branco’: precisamos falar sobre saúde mental

Idealizada há dez anos por um grupo de psicólogos com o objetivo de quebrar o tabu em torno do tema  saúde mental, a campanha “Janeiro Branco” tornou-se lei federal em abril do ano passado. Dessa forma, o mês inteiro de janeiro será, daqui para a frente,  nacionalmente dedicado a campanhas, conversas, encontros sobre saúde mental, sempre com o objetivo de quebrar o tabu, o preconceito, e levar informação a respeito de um assunto tão delicado e emergente.

O sucesso da campanha estimulou o grupo de psicólogos a criar o Instituto Janeiro Branco, uma associação sem fins lucrativos que coordena e promove a “Janeiro Branco”. O objetivo dessa organização é a construção de uma cultura da saúde mental e do bem-estar emocional.

Mas, por que este assunto é tão importante?

Segundo o Informe Mundial de Saúde Mental, que é a maior revisão mundial sobre o tema, publicado pela Organização Mundial da Saúde em 2022, quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental em 2019. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada cem mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade naquele ano.

Vale lembrar que, para a OMS,  saúde mental é “um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade”.

No Brasil, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS),  foi constituída para cuidar das demandas relacionadas à saúde mental.  Existe uma Política Nacional de Saúde Mental, definida por lei, que coordena as estratégias para organizar a atenção às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em saúde mental.

A origem da campanha

O psicólogo Leonardo Abrahão é o presidente do Instituto Janeiro Branco e foi um dos criadores da campanha “Janeiro Branco”. Em entrevista concedida ao site do Instituto em maio do ano passado, logo depois que a campanha virou lei, ele explicou a importância da ação:

“A humanidade precisa de uma cultura da saúde mental, pensar em saúde mental de todas as formas e  o tempo todo, porque isso vai ajudá-la a viver com mais saúde, realizando mais, ampliando  melhores chances. O grande diferencial dessa campanha é acontecer em janeiro, porque todo mundo para na virada do ano para pensar um pouco na vida. O momento é propício. Por isso chamamos de branco, porque a partir de agora todo mundo pode criar, recriar, fazer um novo amanhã”.

Abrahão afirma que não existe uma definição oficial para explicar a saúde mental porque cada momento e cada relação humana têm questões próprias. Mas ele ressalta que há alguns consensos, como o empregado pela OMS, que fala em bem-estar social.

“É preciso ver se a pessoa está dando conta de atender as necessidades internas, de lidar com seu universo subjetivo, com as questões objetivas – trabalho, família, trânsito – com os direitos e deveres de cada cidadão e de cada cidadã. Não adianta olhar só para fora, tem que olhar para dentro. E não tem a ver com religião, ideologia política nem  orientações sexuais”, disse ele.

A campanha “Janeiro Branco” não é focada apenas nos transtornos mentais, considerando que o fato de não ter transtornos aparentes não significa que a pessoa está com sua saúde mental equilibrada. É por isso, segundo Abrahão, que a campanha insiste em que é preciso falar a respeito, sem preconceitos. O objetivo é, também, combater a desinformação e a falta de conhecimento.

“Existem sinais de que a pessoa não está bem. E o “Janeiro Branco” propõe uma conscientização, para que a pessoa saiba o que fazer e como ajudar quem está assim. Vamos olhar com empatia, alteridade, estender a mão, treinar a escuta. Resgatar o diálogo, que é um potencial humano que pode prevenir muita coisa”, disse Leonardo Abrahão.

O que a OMS recomenda

O relatório da OMS chama todos os países a acelerarem a implementação do Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030. Este plano faz várias recomendações de ação, agrupadas em três “caminhos para a transformação”, que se concentram na mudança de atitudes em relação à saúde mental, abordando os riscos e fortalecendo os sistemas de atenção. São elas:

  1. Aprofundar o valor e o compromisso que damos à saúde mental.
  2. Reorganizar os entornos que influenciam a saúde mental, incluindo lares, comunidades, escolas, locais de trabalho, serviços de saúde, etc.
  3. Reforçar a atenção à saúde mental mudando os lugares, modalidades e pessoas que oferecem e recebem os serviços.

Como o voluntariado pode apoiar esta iniciativa?

A campanha Janeiro Branco pode ser uma ferramenta importante, fornecendo conteúdo para voluntários e voluntárias da Rede Voluntária Vale identificarem como e quando atuar em questões relacionadas à saúde mental. É uma campanha que merece atenção especial, mobilização e engajamento.

No site do Instituto Janeiro Branco há 15  ideias sobre o que fazer para ajudar. Desde a criação de  grupos de discussão, conversa com psicólogos, palestras educativas, passando por treinamento para educadores e sessões de meditação e relaxamento. Há, inclusive, uma ideia específica para voluntários(a)s:

“Organize atividades de voluntariado relacionadas à saúde mental, como visitas a asilos ou participação em projetos comunitários”.

Vamos mostrar a força da nossa Rede também para espalhar as informações sobre essa campanha tão esclarecedora.

Seja parte desse movimento, fazendo diferença na vida das pessoas que mais precisam.