O voluntariado aliado à promoção da saúde e à qualidade de vida
Ter saúde não está somente associada à prática de atividade física, alimentação equilibrada ou, ainda, a ausência de doenças. Ter saúde plena compreende ter qualidade de vida, ou seja, o bem-estar físico, mental, emocional, espiritual e social, considerando as condições socioeconômicas, ambientais, culturais e comportamentais de um indivíduo.
Sendo assim, a promoção da saúde é uma das estratégias do setor de Saúde que busca a melhoria da qualidade de vida da população. Os principais objetivos são disseminar a qualidade de vida e diminuir a vulnerabilidade e os riscos à saúde. Tais riscos podem ser provocados por circunstâncias como: modo de vida, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais.
Nas ações de promoção da saúde, o papel atuante dos indivíduos sobre as situações que prejudicam e beneficiam sua saúde é um destaque. E o acesso à informação é importante para o bem-estar que traz qualidade de vida.
Neste sentido, o voluntariado pode somar esforços junto às equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) nas ações de promoção da saúde, uma vez que, entre as ações realizadas pelos voluntários, estão a disseminação de informações e a realização de atividades para o investimento das pessoas na qualidade de vida.
Experiência da Rede Voluntária Vale em Itaguaí/RJ
Em outubro de 2023, a Rede Voluntária Vale, em parceria com o Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), realizou a Trilha de Formação em Saúde para os voluntários da Rede. Foi uma oportunidade para ampliar o conhecimento sobre as redes públicas de Saúde e de Assistência Social e refletir sobre oportunidades de voluntariado em ações locais de prevenção e promoção da saúde.
Somado a esta iniciativa, a Rede Voluntária Vale iniciou um projeto piloto com o objetivo de potencializar a realização do plano local de uma Unidade Básica de Saúde da localidade. O Comitê de Portos Sul foi um dos comitês participante desta iniciativa.
O que é plano local de Unidade Básica de Saúde?
O plano local tem como objetivo o enfrentamento dos problemas de saúde e fatores que colocam em risco a saúde da população atendida. Vale ressaltar que cada Unidade Básica de Saúde possui uma área de atuação e, por isso, o plano de cada UBS tende a ter objetivos diferentes, pois priorizam os principais problemas de saúde e fatores de risco da sua respectiva área de atuação.
O plano local é desenvolvido pela equipe de saúde da UBS com a participação do público alvo do plano. Por exemplo, se uma unidade identifica que um dos principais problemas de saúde é a diabetes no público da terceira idade, e que os fatores de risco são sobrepeso, sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, a equipe da UBS desenvolverá, juntamente com os idosos atendidos por nesta UBS, um plano para abordar sobre a diabetes e para a promoção de hábitos saudáveis tendo em vista os fatores de risco identificados.
Após concluirem a formação, os voluntários vinculados ao Comitê Portos Sul mapearam a localidade onde gostariam de desenvolver o projeto piloto, considerando a vulnerabilidade social. O bairro de Mazomba, no município de Itaguaí, foi o local escolhido pelo grupo. Após a definição da região, o próximo passo foi buscar a parceria com a equipe da Unidade Básica de Saúde que atende o bairro.
“Mazomba é uma região considerada bem rural, com características de vulnerabilidade social, em que a maioria da população é constituída de pessoas idosas ou de crianças. O contato com a equipe da Unidade Básica de Saúde que atende a região foi muito importante, pois percebemos que a equipe de saúde têm noção dos nossos limites, sabem que não é a Vale, mas o corpo de voluntariado da Vale que está fazendo este contato. Uma das demandas identificadas pela equipe de saúde é a instalação de uma academia ao ar livre para a Terceira Idade, porém eles compreendem que tal demanda precisa ser direcionada para a Prefeitura. Sobre o público do plano local da unidade, o alvo são os idosos. Fomos informados que cerca de 15 idosos frequentam a UBS. Foi apenas depois desse alinhamento com a equipe da unidade que realizamos nosso primeiro encontro com os idosos, em janeiro”, disse Tamara Neves, que trabalha como assistente social na Vale e é membro do Comitê Portos Sul.
Tamara também destaca a situação dos idosos de Mazomba, porém afirma que essa realidade não se limita a esta localidade. Além disso, ressaltou a importância de se praticar a escuta ativa junto aos beneficiados e envolvê-los no planejamento das ações de promoção da saúde.
“O posto de saúde é o local de convivência, para onde os idosos vão, em geral, para conversar com alguém, porque muitos moram sozinhos. Há casos de pessoas que ficam lá praticamente o dia inteiro, vão pela manhã, voltam para casa para o almoço e à tarde estão lá novamente. Fizemos uma primeira reunião com esses idosos justamente para ouvi-los, para saber o que eles gostariam. Essa parte, de planejamento, nós aprendemos com a Trilha de Formação, porque o voluntariado às vezes age muito com o coração, vai na afobação, e dessa vez nós nos planejamos para ouvir, dar voz a quem tem experiência. Infelizmente vivemos numa sociedade que tem deixado o idosos muito de lado”, disse Tamara.
A experiência foi gratificante. O encontro foi programado para a parte da manhã, do qual participaram cerca de cinco voluntário(a)s, entre eles Sandra Figueiredo, técnica de enfermagem. Eles levaram comidas para um café da manhã, conversaram bastante e realizaram algumas atividades.
“Foi importante também porque percebemos o quanto eles se sentem à vontade naquele local, tanto que alguns passam lá o dia inteiro. A carência de atenção é muito grande, o ambiente da Unidade Básica de Saúde acaba servindo também para o relacionamento pessoal entre eles. Fizemos uma ginástica laboral, com exercícios conectados com as limitações deles, buscamos fazer os exercícios em dupla, para facilitar, deixá-los mais à vontade. E eles foram relaxando. Estávamos ali para eles, não para nós, e deixamos isso bem claro, respeitando o que eles queriam ou não fazer’, contou Sandra.
Ao final do encontro, os idosos mostraram interesse em montar uma horta comunitária, com vistas à alimentação. O local escolhido para fazer a horta foi o quintal da própria Unidade de Saúde, e os próprios idosos se organizaram para garantir os cuidados deste espaço coletivo. Tão logo saíram de lá, os voluntários começaram a planejar a ação, entrando em contato com a Secretaria Municipal de Agricultura para buscar orientações sobre a horta.
Importante lembrar que, para além dos benefícios financeiros e nutricionais que a horta pode trazer ao grupo de idosos, há também ganhos para a saúde mental e física, já que a horta exigirá movimento, compromisso e será mais uma forma de relação social para eles.