Um dia lúdico, afetivo e de muita aprendizagem no Museu do Amanhã
Dia 9 de dezembro de 2022, meio-dia. Entrava em campo, no Catar, a seleção brasileira para enfrentar o time da Croácia na Copa do Mundo. Bem longe dali, na Cidade de Deus, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, 44 coraçõezinhos das duas turmas de 5º ano da Escola Municipal Professoranda Leila Barcelos de Carvalho estavam divididos. Sim, seria ótimo que o Brasil ganhasse para comemorar a vitória. Por outro lado… se ganhasse da Croácia, a seleção brasileira jogaria novamente no dia 13 de dezembro. E os meninos e meninas perderiam um passeio ao Museu do Amanhã. Para a grande maioria, seria a primeira vez que visitariam um museu.
Como se sabe, e a História vai contar, foi um jogo sofrido, perdemos nos pênaltis.
E assim… às 14h do dia 13 de dezembro, aquele time de brasileiros da Leila Barcelos, com idades variando de 10 a 13 anos, entrava no Museu do Amanhã. Olhares curiosos, brilhantes, atentos a cada circunstância, a turma estava conectada e sem querer perder um único lance daquele passeio. Foi um presente de formatura que as professoras, juntamente com voluntários e voluntárias do Comitê Rio da Rede Voluntária Vale, decidiram dar para as crianças, já que no ano que vem elas começarão outro ciclo, em outra escola.
A visita faz parte do “Esticador de Horizontes”, projeto idealizado pela Rede e pelo Instituto Cultural Vale para proporcionar uma experiência lúdica, afetiva e de novas aprendizagens para crianças, jovens e adultos, em situação de vulnerabilidade social, por meio da visitação e participação na programação oferecida por equipamentos culturais da Vale.
O foco principal da visita era a exposição “Amazônia” do fotógrafo Sebastião Salgado no Museu do Amanhã, patrocinada pelo Instituto Cultural Vale.
Segundo a coordenadora da Escola, Tatiana Martins Silva, na verdade o passeio começara já com os preparativos, tamanha era a ansiedade das crianças.
“Na Cidade de Deus, as famílias não têm condições de proporcionar possibilidades de lazer, de esporte, para seus filhos. As crianças quase não saem daqueles domínios. Quando a escola consegue fazer isso, além de cumprir com seu papel, é muito importante para as crianças. Quando surgiu essa oportunidade, oferecida pelos voluntários e voluntárias da Rede, abraçamos de imediato. Foi um convite muito especial, estamos todas muito emocionadas”, disse Tatiana.
Como não havia espaço, na comunidade, para que o ônibus pudesse estacionar na porta da escola, os alunos caminharam até o veículo. Até isso foi uma farra. E sem bagunça! A professora Tatiana conta que eles obedeceram o tempo todo. Qual o segredo? “Eu disse a eles: se fizerem bagunça não vai ter outro passeio. Foi minha moeda de troca”, disse ela, sorrindo.
Carolina Patrício, outra professora que acompanhava o grupo, disse que organizar o passeio foi um grande desafio. Mas um desafio muito gratificante.
“Tivemos muitas variáveis envolvidas: data da Copa, o transporte… Mas a vontade foi mais forte, e com a ajuda dos voluntários e voluntárias, o resultado foi maravilhoso”, disse ela.
Para a empregada da área de Tecnologia da Vale Maria José Cavalcante, voluntária do Comitê Rio, que acompanhou o grupo, foi um momento emocionante. Ela contou que o Comitê Rio já trabalha com a Escola Leila Barcelos, que tem 393 alunos, há três anos.
“Sempre fizemos festas de Natal na escola. Desta vez a professora Carolina nos disse que um passeio seria o maior presente que eles poderiam ter no Natal. Eu me lembrei do projeto ‘Esticador de Horizontes’, e organizamos tudo”, contou Maria José.
Outra professora que acompanhou o grupo, Lucia Maria Pereira, lembrou que estar em um ambiente novo é necessário para aqueles alunos.
“É uma oportunidade única de conhecerem pessoas diferentes. Sabemos que as famílias não têm como levá-los a lugar algum, porque a vida dos pais é difícil. Por isso, posso dizer que foi um momento mágico, o que eles viveram aqui”, disse ela.
Com a palavra, os pequenos beneficiados. Bem, na verdade nem precisa muito de palavras. Os gestos falaram por si. Além disso, mais do que dar respostas, os meninos e as meninas estavam ali para perguntar. Logo no início, o assombro impactante na exposição permanente do Museu, contando a história de nosso Cosmos, o início de tudo. Deitadas no chão, melhor maneira de assistir ao espetáculo, as crianças interagiram, ora gargalhando, ora com espanto.
Antes de chegar à exposição “Amazônia”, uma passagem pela maquete do Museu do Amanhã, com explicações sobre o espaço físico onde se encontravam.
As quase 200 imagens obtidas pelas lentes sensíveis de Sebastião Salgado, um renomado fotógrafo brasileiro, organizadas na exposição “Amazônia”, foram a cereja do bolo. Os corpos nus dos indígenas, as caças conduzidas no ombro, o rio que é quase um mar, a linda lenda que ouviram sobre o Monte Roraima… Nada escapava aos ouvidos atentos. A menina Kaylane Vitória se espantou e chamou todo mundo para ouvir a novidade quando soube que as fotos eram atuais, não de um passado distante, como ela imaginava.
“Eles vivem assim lá?”, perguntava.
Ninguém queria tal ventura, mesmo depois de alguma explicação sobre hábitos e cultura indígena.
“Ah, mas eles têm que caçar o que comer… deve ser muito difícil”, disse Maria Luiza.
Na saída de “Amazônia”, ainda deu para conferir a exposição Nhande Marandu – Uma História de Etnomídia Indigena, que traz produções contemporâneas dos povos indígenas.
Mas o tempo passa rápido quando a prosa é boa. E o ônibus já estava pronto para levar a criançada de volta para suas casas. E l á se foi o time de brasileiros que ganhou com a derrota da seleção. Com muitas histórias para contar e, certamente, com seus horizontes mais esticados.
Veja aqui, aqui, aqui e aqui outros momentos do projeto “Esticador de Horizontes”.