O voluntariado no apoio a gestantes e mães em situação de vulnerabilidade

Celebrado nacionalmente no segundo domingo do mês de maio, o Dia das Mães não é apenas uma data para se oferecer presentes e doces. Há muito a saber a respeito das mulheres que se tornam mães, um período em que elas precisam, acima de tudo, de uma rede de apoio que lhes assegure a qualidade de vida necessária para cuidar de si e do bebê.

Alguns dados sobre a situação das mulheres que cuidam sozinhas de seus filhos no Brasil podem ilustrar ainda um outro lado da maternidade, quando a mulher está em condição de vulnerabilidade social e se torna mãe solo. Uma pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas dá conta de que o número de mães solo no Brasil aumentou 17% em dez anos, passando de 9,6 milhões em 2012 para mais de 11 milhões em 2022.

De acordo com o estudo, 7 milhões (pouco mais de 70%) dessas mães solo são mulheres negras e moram no Norte e Nordeste do país. E 29% estão fora da força de trabalho, ou seja, não estão nem procurando emprego, enquanto 7,2% estão procurando emprego mas seguem desempregadas.

Voluntário(a)s da Rede Voluntária Vale podem ajudar as gestantes em vulnerabilidade social, indicando alguns caminhos. Para isso, é preciso ter algumas informações importantes.

A saúde

Embora gravidez não seja doença, é importante que a gestante tenha um acompanhamento médico de qualidade para garantir que corra tudo bem com ela e com o bebê nesse período. Para isso, é imprescindível o acompanhamento mensal, só que os últimos dados (2020) do Sistema Único de Saúde (SUS) dão conta de que 29% das mulheres fizeram menos de sete consultas durante a gestação – desse total, 74% são negras e indígenas –  sendo que 1,76% não fizeram nenhuma consulta.

A Rede Cegonha, do SUS, é estruturada para oferecer atenção à mulher no pré-natal, no parto, puerpério e atenção integral à saúde da criança. Cada município se organiza de uma forma, e é importante procurar as Unidades de Saúde para se informar melhor.

Em São Paulo, por exemplo, a Casa de Parto Sapopemba realiza cerca de 20 partos mensalmente de maneira humanizada. No Rio de Janeiro, o projeto Cegonha Carioca, tem como principais objetivos humanizar e garantir o melhor cuidado para a mãe e o bebê, do pré-natal ao parto, incentivando a realização de exames essenciais para a saúde da criança e da gestante.

Segundo informações obtidas no Portal do médico Drauzio Varella, há cerca de 14 desses lugares espalhados pelo país e todos fazem parte do SUS, ou seja, podem ser acessados gratuitamente.  É preciso, no entanto, que a mulher faça o acompanhamento mensal (Pré-Natal) para, se quiser, fazer parte dessas casas.

O pós parto e a saúde mental

O pós parto é um momento único para a mulher. Mas há situações em que, mesmo cercada pelo carinho da família, ela pode apresentar sinais de que precisa de ajuda profissional.

A depressão pós parto acomete cerca de 15% das mulheres após o nascimento do bebê. O Ministério da Saúde define assim esse transtorno: “É uma condição de profunda tristeza, desespero e falta de esperança que acontece logo após o parto. Raramente, a situação pode se complicar e evoluir para uma forma mais agressiva e extrema da depressão pós-parto, conhecida como psicose pós-parto. A depressão pós-parto traz inúmeras consequências ao vínculo da mãe com o bebê, sobretudo no que se refere ao aspecto afetivo”.

Como o diagnóstico da depressão pós-parto precisa ser feito por um profissional de saúde especializado (no caso, um psiquiatra), é importante que a grávida tenha este acompanhamento também no pós-parto. Há alguns sintomas que podem ser sinais importantes de que a mãe está em depressão, e só o médico é capaz de avaliar.

A chegada do bebê – o enxoval

Fazer o enxoval do bebê é outro momento especial para a gestante. Mas, infelizmente, para aquelas que estão em situação de vulnerabilidade social, sem recursos financeiros para fazer as compras, pode ser também uma ocasião de estresse e preocupação. É importante saber, no entanto, que desde que a mulher seja inscrita no Cadastro Único do Governo Federal (famílias que têm renda mensal de até meio salário-mínimo por pessoa, ou seja, equivalente a R$ 706,00/mês) ela tem direito a um enxoval grátis.

A lista dos itens que compõem o enxoval pode variar entre as regiões, mas em geral consiste de roupinhas, fraldas, kit de higiene, mantas e até almofadas e bombas de leite para auxiliar na amamentação.

Existe um passo a passo para garantir esse direito à grávida, e o voluntariado pode auxiliar no sentido de dar as informações corretas àquelas que precisarem deste auxílio.

1 – Verifique se a grávida está inscrita no CadÚnico, essencial não apenas para receber o enxoval de forma gratuita, como também para acessar uma variedade de programas sociais que hoje são oferecidos pelo governo federal.

2 – Cumprida essa etapa, é hora de procurar o Centro de Referência da Assistência Social do município. Lá é que se consegue obter informações sobre a disponibilidade do enxoval grátis e iniciar o processo para recebê-lo. Vai ser necessário recolher todos os documentos, incluindo atestado de residência e atestado indicando a gravidez.

O aleitamento

O leite materno é a forma mais eficaz e segura de proteger o bebê nos primeiros meses de vida. É um ato de amor, de entrega, um elo importante na relação mãe e filho, uma teia de afeto. O ideal é que o bebê, logo ao nascer, vá para o colo da mãe, e instintivamente procure o seio para se alimentar. Esse primeiro líquido, mais grosso e de coloração diferente,  chama-se colostro e é rico em proteínas, anticorpos, vitaminas, minerais e outros componentes bioativos. É fundamental para o funcionamento dos intestinos do bebê.

Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que o aleitamento materno seja capaz de diminuir em até 13% a morte de crianças menores de 5 anos em todo o mundo por causas preveníveis. Nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças nessa faixa etária.

Sobretudo as mães em situação de vulnerabilidade social devem ser estimuladas a amamentar seus filhos. Nos casos em que, por questões de saúde, é impossível o contato entre mãe e filho para o aleitamento, o sistema de saúde público disponibiliza bancos de leite humano. Para saber mais sobre este serviço, acesse aqui.

Como ajudar?

Como já vimos, as mães precisam de uma rede de apoio. Os voluntários e as voluntárias podem ser um elo dessa cadeia de afeto e suporte. Acima de tudo, é importante praticar a escuta, para saber se a mulher está precisando de alguma ajuda, de fato.

O respeito a esse momento é fundamental, assim como é básico ter a sensibilidade para saber quando se torna necessário mostrar disponibilidade para ajudar e orientar.