Da África a Minas em histórias e exposições: voluntários organizam uma tarde no Memorial Vale para jovens em vulnerabilidade social
Quase dava para sentir o cheirinho de café sendo feito no fogão a lenha quando os jovens do Espaço Transformar entraram na sala Fazenda Mineira, do Memorial Minas Gerais Vale na quarta-feira, dia 13, à tarde. A decoração, com bules, xícaras, pratos e panelas pintados e pendurados pelas paredes e no teto, fez ir longe a memória da analista de suprimentos Andreia Guimarães, voluntária do Comitê Belo Horizonte/Nova Lima, da Rede Voluntária Vale.
“Tive vontade de me teletransportar para minha infância. Minha mãe tinha fogão a lenha e usava sempre para os momentos de lazer, nos finais de semana em família”, contou ela.
Andreia acompanhava a visita de 36 jovens de 11 a 14 anos do Espaço Transformar ao Memorial. É mais uma ação que faz parte de um projeto idealizado pela Rede Voluntária Vale e o Instituto Cultural Vale para proporcionar uma experiência lúdica, afetiva e de novas aprendizagens para crianças, jovens e adultos, em situação de vulnerabilidade social, por meio da visitação e participação na programação oferecida por equipamentos culturais da Vale.
Charles Souza, coordenador do educativo do Memorial, aplaudiu a iniciativa. Ele lembrou que é uma oportunidade de jovens passarem a frequentar o espaço, que é deles também:
“O prédio é grande, imponente, e fica numa região nobre da cidade de Belo Horizonte, e isto pode intimidar e afastar os jovens que não se identificam. Depois de uma visita eles passam a entender que este espaço público é também para eles, deve ser ocupado por eles”, disse Charles.
A visita foi um sucesso do princípio ao fim. Como as exposições do Memorial Minas Gerais Vale seguem eixos temáticos, os voluntários do comitê, junto com os coordenadores do espaço, escolheram Africanidade e a Mineiridade para apresentarem aos jovens do Transformar.
O que é ser mineiro? Qual a parcela do nosso povo que é devida aos povos africanos? O que pensar sobre a intolerância religiosa?
Foram algumas das perguntas que rodearam a visita dos jovens. As coordenadoras do Memorial fizeram rodas de conversa com todos eles antes da visita, para apresentar os temas, ouvir as expectativas.
“Fiquei impressionada quando um jovem, ao responder à pergunta sobre a influência africana na história de sua vida, lembrou-se de um salão de beleza em seu bairro, que cuida de cabelos afro”, contou Andreia.
Jaqueline Aparecida Pinto, assistente administrativa e gestora do Espaço Ação Transformar, ficou encantada. Não foi a primeira vez que ela visitou o local, mas sempre é uma experiência nova:
“Por mais que se conheça todas as salas, tem sempre um pouquinho mais para ver. Acho a visita muito importante para os jovens porque só um livro, só o contexto escolar, é pouco para que eles consigam enxergar a história deles, perceber o legado que nos foi deixado”, disse ela.
Já a professora Daniela Rodrigues de Souza Batista, que também esteve no Memorial Minas Gerais Vale, pontuou alguns momentos preciosos da visita. Um deles foi o espanto dos alunos quando viram fotos de uma cidade do Egito.
“Eles ficaram impactados quando perceberam que as cidades egípcias são urbanizadas! Outro momento foi quando o monitor Gustavo expôs um mapa onde cada cidade representa um sentimento e pediu que os jovens pusessem um pino na cidade que mais tinha a ver com o sentimento dele naquele instante. Foi muito interessante ver o estado emocional deles”, disse a professora.
A visita durou quase duas horas, e o lanchinho do final foi servido no ônibus, na partida para Nova Lima, cidade vizinha a Belo Horizonte, onde fica a sede do Espaço Transformar. Maria Eduarda Rosa Chaves Silva, de 14 anos, foi uma das visitantes. Ela deu nota dez para a visita:
“Pude conhecer mais sobre a minha cidade, consegui ver um monte de coisas que eu não via. A influência que a África tem sobre nossa música, por exemplo”, disse ela.
Os jovens levavam uma bagagem cultural mais cheia. A voluntária Andreia Guimarães, que dividiu a coordenação da visita com outra voluntária, Camila Cantagalli, por sua vez, além das boas lembranças da infância, carregava a vontade de espalhar para muito mais pessoas o prazer de ser voluntária.