Conceição Evaristo emociona em webinário de lançamento da Campanha Experiências Leitoras
“Principalmente no campo da educação, ser voluntário é um ato de consciência que não pode ser desvinculado de uma postura crítica da sociedade…. é um compromisso de todo mundo pensar a leitura e a escrita como direito de todos, tanto quanto o alimento, a habitação… Tenho dito que não nasci rodeada de livros, mas nasci rodeada de palavras. Mas, quando tive acesso aos livros, à palavra escrita, um novo mundo se descortinou diante de mim”.
Esses são alguns dos pensamentos que a escritora, romancista e poeta premiada Conceição Evaristo, compartilhou com os voluntários e voluntárias da Rede Voluntária Vale no webinário que marcou o lançamento da Campanha Experiências Leitoras. A audiência do evento, que aconteceu no dia 16 de setembro, chegou a 310 pessoas. E, pela quantidade de mensagens de agradecimento que foram enviadas, foi uma ocasião muito especial para todos.
Conceição Evaristo falou sobre seu processo criativo, sobre a sociedade, sobre autores e autoras negras e indígenas que viraram referência. E contou sobre sua infância, sobre a importância do papel de sua mãe em sua educação. A escritora lembrou ainda a relevância do papel do voluntariado, que consegue modificar muitas questões.
Conceição Evaristo salientou que, mesmo em situações precárias do cotidiano, é possível despertar as crianças e os jovens para a leitura. E contou uma passagem de sua infância que ilustra isto e pode servir como exemplo, sobretudo para os voluntários e voluntárias que quiserem participar como contadores de histórias:
“Minha mãe tinha uma forma muito didática de nos apresentar o texto escrito. Ela nos mostrava o texto impresso e nos mostrava também os desenhos. Eu e meus irmãos ficávamos tentando imaginar o que a expressão facial daqueles desehos significavam. Por exemplo: se tinha a imagem de uma mulher com uma expressão triste, nós ficávamos brincando. ‘Ela está triste por quê? Será que é porque o sapato está apertado?’ E, nessa brincadeira, minha mãe fazia a oficina da palavra conosco, ao mesmo tempo que nos despertava o interesse pelo texto. O que eu quero dizer com isso? Que sempre encontramos formas de resistir ao cotidiano e de criar maneiras de enfrentá-lo. A leitura, neste sentido, tem que ser valorizada, incentivada porque pelo caminho da leitura outras coisas são conquistadas”.
A escritora, mulher negra e de origem pobre, conseguiu furar o cerco das privações que marcaram sua infância. E chamou atenção, em sua fala, para o fato de que “as pessoas vindas da classe pobre têm que pelejar muito ‘para chegar lá’, enquanto outros já nascem com tudo garantido”.
“O que tem que ficar explícito é que a leitura e a escrita têm que ser vistos como direitos numa sociedade democrática. Temos direito também a ir a um teatro, a um concerto, a uma roda de samba. Nós voluntários, temos que saber que o que estamos oferecendo algo que o outro já tinha direito de ter. E temos que ter a consciência e se perguntar: que sociedade é essa que não dá conta de dar aquilo que é direito de todos?”
A Rede Voluntária Vale não poderia ter iniciado a Campanha Experiências Leitoras com pensamentos mais ricos e instigantes.
Vamos, juntos, fazer essa Campanha ser um sucesso! Convide um amigo, um parente, acesse aqui e participe deste movimento.
Juntos somos mais fortes!